terça-feira, 26 de outubro de 2010

Camané - A Guerra das Rosas



Partiste sem dizer adeus nem nada.
Fingiste que a culpa era toda minha.
Disseste que eu tinha a vida estragada,
E eu gritei-te da escada que fosses morrer sozinha.

Voltaste e nem desculpa pediste.
Perguntaste porque é que eu tinha chorado.
Não respondi, mas quando vi que sorriste,
Eu disse que estava triste porque tu tinhas voltado.

Zangada esvazias-te o meu armário,
E em nada ficou o meu disco preferido.
De raiva rasguei o teu diário,
Virei o teu saco ao contrário,
Dei-te cabo de um vestido.

Queimaste o meu jantar favorito.
Deixaste o meu champanhe azedar.
E quando cozinhei o periquito,
Para abafar o teu grito,
Eu comecei a cantar.

Fumavas e eu nem suportava o cheiro.
Teimavas em me acender o cigarro.
E quando tu me ofereceste o isqueiro,
Atirei-te com o cinzeiro,
Escondi as chaves do carro.

Não queria que visses televisão,
Em dia de jogos de Portugal.
Torcias contra a nossa selecção,
Se eu via um filme de acção,
Tu mudavas de canal.

Tu querias que eu fosse contigo ao baile.
Só ias se eu não entrasse contigo.
Saia para não ter de te aturar,
Tu ficavas a dançar com o meu melhor amigo.

Gozavas porque eu não queria beber.
Ralhavas ao veres-me de grão na asa.
Eu ia à festa sem te dizer,
Nunca cheguei a saber se tu ficavas em casa.

Tu deste ao porteiro roupa minha.
Soubeste que lhe dera o teu roupão.
Eu dei o teu anel à vizinha,
Pela estima que eu lhe tinha,
Ofereceste-lhe o meu cão.

Foste-me lendo o teu romance de amor,
Sabendo que eu não gostava da história.
No dia de o mandares para o editor,
Fui ao teu computador,
Apaguei-o da memória.

Se cozinhavas eu jantava sempre fora.
Juravas que eu havia de pagá-las.
«Põe-te na rua» - dizias-me a toda a hora,
E quando eu me fui embora,
Ficaste-me com as malas.

Depois desses anos infernais,
Os dois éramos caso arrumado.
Achando que também era demais,
Juramos para nunca mais,
Foi cada um para seu lado.

No escuro tu insistes que eu não presto.
Eu juro que falta a parte melhor.
O beijo acaba com o teu protesto,
Amanhã conto-te o resto,
Boa noite meu amor.

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